O Flamengo está próximo de acertar a contratação de um desejo antigo: Marcos Antônio, meio-campista que pertence à Lazio, da Itália. O jogador de 24 anos é acompanhado há algum tempo pelo scout rubro-negro, e o clube discute detalhes para concluir a transferência por empréstimo - em caso de compra após o período de cessão, o Flamengo pode pagar de 5 a 6 milhões de euros.
Nascido em Poções, na Bahia, Marcos Antônio, foi para o Athletico-PR aos 11 anos de idade e lá ficou até os 18. Integrante da geração de Vinicius Junior e Paulinho, virou jogador de seleção brasileira e sagrou-se campeão sul-americano sub-15 e sub-17. Uma briga entre Mario Celso Petraglia, dirigente do Furacão, e a empresa que o representava à época encerrou a passagem por Curitiba, e o jovem deixou o clube sem ter realizado nem uma partida sequer como profissional.
Marcos Antônio, que ganhou o apelido de Bahia ainda na base do Athletico, profissionalizou-se com a camisa do Estoril, de Portugal. Depois de apenas seis jogos, transferiu-se para o Shakhtar Donetsk, da Urcrânia, onde viveu o melhor momento da carreira. Depois de três temporadas, chegou à Lazio, da Itália. Não se firmou e acabou emprestado ao Paok, da Grécia.
No clube ucraniano, entrou em campo em 102 jogos - 62 como titular - e marcou oito gols entre 2019 e 2022. O bom futebol fez a Lazio desembolsar 8 milhões de euros para contratá-lo. Mas na liga italiana, não conseguiu se firmar e fez apenas 22 jogos (nove como titular) antes de ser emprestado para o Paok, da Grécia, no último ano. Na equipe grega, fez 17 jogos e saiu do banco 10 vezes.
Para apresentar o baixinho de 1,68m à torcida do Flamengo, o ge conversou com três jornalistas que acompanharam de perto diferentes momentos da carreira do atleta, Raphael Zarko, Rodrigo Coutinho e Andersinho Marques. Completa o time de especialistas o treinador Guilherme Dalla Déa, que o dirigiu no título sul-americano sub-15 de 2015 e foi auxiliar da comissão de Carlos Amadeu na conquista da mesma competição no sub-17, em 2017.
- Ele é o retrato mais bem falado da figura do meio-campista clássico. Acompanhei na Seleção sub-17 e na sub-20, ouvia maravilhas sobre ele do saudoso Carlos Amadeu, que o treinou nas duas categorias, e o enxergava no futuro da Seleção.
- Claro que o futebol tem diversos obstáculos e não há como negar que os seus 1,68m contribuem para uma dificuldade em mostrar toda sua qualidade no meio de jogadores muito mais altos e mais fortes. Mas ele tem inteligência em posicionamento, nos passes de primeira, nos lançamentos precisos, nas tabelas curtas. O enxergo jogando ao lado e um pouco à frente do primeiro meio campista escalado por Tite, com a certeza de que pode ajudar muito um elenco tão forte como o do Flamengo - comentou Raphael Zarko, jornalista do Grupo Globo que acompanhou Marcos Antônio nas convocações.
Zarko ainda destacou que enxergava em Bahia um jogador raro, com características de meio-campistas muito técnicos que fizeram sucesso no futebol sul-americano entre os anos 90 e 2000. Ricardinho, comentarista do Sportv, foi um dos citados.
- Em 2020, fiz matéria antes da Copa sobre a ausência de meias (clique aqui e leia) e lembrei que André Jardine - ainda na sub-20 - o convocara para amistosos num contexto de pouquíssimos jogadores de criação - porque geralmente viram pontas ou algo parecido. Bahia me lembra um pouco Ricardinho pela capacidade de conduzir a equipe ao ataque, de trocar de lado junto com a bola. Um tipo de jogador que a Argentina sempre produziu muito mais do que o Brasil - Veron era esse jogador. Riquelme, embora mais avançado, também era.
Brasileiro que atua na Itália há 24 anos, o jornalista Andersinho Marques acredita que o brasileiro não conseguiu se firmar no "Calcio" devido ao pragmatismo tático de muitos treinadores que por lá militam. Marques, porém, citou o "pé maravilhoso" de Marcos Antônio para encaixar passes.
- Ele foi muito bem na Lazio, mas deu azar porque italiano é muito complicado com tática, e há certos treinadores que não dão o braço a torcer. Esse ano ele fez um bom campeonato na Grécia. Ele é dinâmico, é veloz e muito bom tecnicamente. Tem a capacidade de jogar em qualquer time no Brasil e ser titular absoluto sem nenhum problema. Ele é um jogador muito inteligente, muito veloz e tem um pé maravilhoso para passes - destacou Andersinho.
Embora tenha atuado por muitas vezes com um camisa 5, Marcos Antônio é visto por Rodrigo Coutinho como um segundo homem de meio-campo ou um meia para atuar à frente do volante central. O comentarista do Grupo Globo destaca que acompanhou o atleta mais na época em que atuava pelas seleções brasileiras de base e no início do Shakhtar Donetsk.
- Ele é um meio-campista de muita técnica. Eu sempre vi muito potencial nele, de drible curto, passe, capacidade de organização, visão de jogo. Dá muita dinâmica para circulação de bola no time. Ele só não é um jogador que se impõe fisicamente. Ele é baixinho e franzino. Jogo com duelo físico no meio-campo ele tem dificuldade. Com a bola no chão, jogo controlado, com a posse, ele se destaca. Ele pode chegar e jogar muito bem no Brasil. Não sei como está no momento, mas a teoria e a parte técnica dele são de alto nível - comentou Rodrigo Coutinho, comentarista do Grupo Globo.
Embora admita que tenha assistido a menos partidas a partir do momento em que Marcos Antônio chegou à Itália, Rodrigo Coutinho cita o fato de o atleta ter conseguido ter minutos com Roberto De Zerbi e Maurizio Sarri comprova a qualidade do baiano.
- Foi comandado por vários treinadores que prezam muito a qualidade do meio-campista. O Roberto De Zerbi, que foi técnico do Brighton nessas temporadas e é um cara chatíssimo com essa questão, até da forma que o jogador domina a bola, como ele vai dar o próximo passe em campo. E também o Maurizio Sarri, que fez um time muito bom no Napoli, passou pela Juventus e estava na Lazio recentemente. Ele é o cara responsável por desenvolver o Jorginho, que é volante da seleção italiana. Se ele não tivesse qualidade, ele não jogaria com nenhum desses caras, e ele foi em algum momento titular desses caras nos clubes em que ele foi treinado.
Atual treinador do time sub-20 do Atlético-MG, Guilherme Dalla Déa foi figura importante no crescimento de Marcos Antônio dentro da Seleção. O comandou na conquista do Sul-Americano Sub-15 em 2015 e, como auxiliar de Carlos Amadeu (que morreu em 2020 após ataque cardíaco), o ajudou a se consolidar com a Amarelinha no sub-17.
- O Bahia é um atleta muito dinâmico, que entendia muito da questão tática, de espaço. Ele sempre foi um 5 e um 8 no Athletico-PR. E se encaixou muito bem na ideia que o Amadeu tinha no Sul-Americano de 2017. Já estando no sub-17, ele foi muito bem. O meio tinha Bobsin, Marcos Antônio, Vitinho, do Corinthians, e depois apareceu o Alanzinho, do Palmeiras. Tínhamos um trio de meio-campo fantástico, cada um com sua particularidade.
- Bahia sempre foi um jogador box-to-box, andava muito para frente, com a perna rápida demais, apesar de ele não ter aquela biotipia tão avantajada. Mas ele supria através da dedicação e da característica de se entregar muito para a equipe. Jogador muito técnico e muito inteligente para o espaço. Ele é um controlador do jogo, acelera e dá timing para o jogo. Isso nos chamava muita atenção na seleção brasileira.
Dalla Déa cita um vídeo divulgado pela CBF antes da disputa do Mundial Sub-17 (veja no topo da matéria), em 2017, em que Marcos Antônio chora ao falar do início no Athletico-PR. O atleta se emociona ao lembrar que deixou Poções aos 11 anos de idade. Para o treinador, a renúncia deu resultado.
- Jogava muito por trás, pisava muito na área. Era um atleta que sempre nos chamou atenção pela dedicação. Ele já sabia que estava chegando a uma geração fantástica e tomou conta do meio-campo junto com o Bobsin. Menino que sempre foi muito dedicado, um jogador muito técnico e agregador. Quando fomos para a Copa do Mundo Sub-17, tinha um depoimento de todos os atletas. E ele foi um dos que chamou atenção pela fala dele, pela questão familiar e por tudo do que ele abriu mão. E vivendo um sonho de jogar a Copa do Mundo pela Seleção. É bem emocionante, e ele também se emociona.
Por fim, Dalla Déa destaca que Tite e Cleber Xavier, auxiliar do treinador, têm muitas informações sobre Marcos Antônio por terem dialogado muito com as comissões técnicas da seleções inferiores.
- Pelo que eu vi na reportagem de hoje, o Flamengo está atrás. O Clebinho (Cleber Xavier) e o professor Tite sabiam dessa geração, tinham baita conhecimento sobre, principalmente o Clebinho. Tínhamos uma sinergia e falávamos de vários jogadores que teriam grande potencial para servir à seleção brasileira principal.
Marcos Antônio é um desejo antigo do Flamengo, que acompanha a sua carreira na Europa de forma constante principalmente nos últimos dois anos. O investimento, no entanto, só se tornou viável nesta janela de transferência.
O ge apurou que as partes conversaram e encaminharam um acordo na janela do início do ano. Porém, Marcos Antônio estava defendendo o Paok, e o contrato não previa o direito da Lazio pedir o retorno do atleta naquele momento.
Agora, o Flamengo retomou o contato e negocia com o clube italiano o empréstimo por um ano com opção de compra. As três partes estão dispostas a um acordo e tratam o acerto como questão de tempo para ser concretizado.
O Flamengo pagará um valor pelo empréstimo que será abatido um ano depois caso decida exercer a cláusula de compra. A expectativa é de que o valor de compra gire entre 5 e 6 milhões de euros, mais bônus.
Está em discussão ainda a cláusula de obrigação de compra. A Lazio deseja que o Flamengo a exerça caso o jogador atue em 50% dos jogos do clube no período de empréstimo. O Rubro-Negro avalia as condições para fazer sua contraproposta.