O Pix vem crescendo e alcançando cada vez mais usuários no país. De acordo com dados do Banco Central (BC), somente no primeiro semestre de 2024, foram realizadas 28 bilhões de transações, o equivalente a mais de R$ 11 trilhões transacionados.
Criado em novembro de 2020, o Pix foi rapidamente tomando conta da rotina financeira dos brasileiros. Hoje, uma parcela dos consumidores faz compras físicas e online, paga a fatura do cartão de crédito e realiza pagamentos diversos sem tocar no dinheiro físico.
Alcançando diversos tipos de transferências, o método de pagamento também chega a altos patamares. O Banco Central revelou que o valor mais alto já realizado em uma única transferência via Pix foi de R$ 2,27 bilhões, feita em março deste ano.
Ainda segundo a instituição, como consequência dessa mudança de comportamento na economia, foi registrada uma queda de 34% nos saques realizados no Brasil nos últimos quatro anos. No primeiro trimestre de 2020, foram realizados 986 milhões de saques, já no mesmo período de 2024, essa quantidade caiu para 654 milhões.
Pandemia (Covid-19)
O economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), Werson Kaval, aponta que o valor do papel moeda que circula país recuou 0,2% em 2023, passando de 342,3 bilhões em 2022 para 341,6 bilhões no fim do ano passado.
“É interessante que até 2023 a única queda de circulação de dinheiro físico que nós tivemos tinha sido registrada em 2021, justamente quando houve o efeito da pandemia do Covid-19. Para se ter uma ideia, a crise sanitária elevou em quase R$ 90 bilhões o valor de circulação do país em 2020. Isso porque os pagamentos do auxílio emergencial geralmente eram feitos em cédulas, pois as pessoas com menor poder aquisitivo, geralmente têm uma preferência por dinheiro físico”, destaca.
Tempo de vida do papel moeda
Ainda segundo o economista, de acordo com estudos do Banco Central, a pandemia adiantou o processo de digitalização dos pagamentos no Brasil em três anos, ou seja, aumentando a necessidade dos pagamentos eletrônicos em relação ao físico. Ainda assim, Werson acredita que o dinheiro em papel ainda terá um longo tempo de vida, pois ainda faz parte do uso de uma parcela considerável da população.
“As notas e as moedas ainda são o principal meio de pagamento de 44% dos brasileiros, quase metade. E quando a gente passa para as pessoas de menor poder aquisitivo (classes B e E), esse percentual sobe para 65%”, aponta. “O Pix é uma grande sacada que nós tivemos de pagamento eletrônico, assim como se fizermos comparações com países como a Inglaterra, que ainda usam muito dinheiro físico, nós estamos na vanguarda”, completa.
Acesso à internet
O professor Kaval ressalta que o Pix foi um grande acerto do Banco Central, permitindo a bancarização e a solução de diversas questões através do smartphone, sem tocar no dinheiro físico. Mas o avanço do uso do Pix ainda esbarra no alto número de brasileiros sem acesso à internet.
“Um em cada três brasileiros não têm acesso à internet, isso significa que tem aí pelo menos 36 milhões de pessoas que ainda estão offline, sem equipamentos para conexão na internet, para poder fazer seus meios de pagamento e deixar de usar o papel moeda. Em áreas rurais, chegamos a praticamente 53% dos brasileiros sem internet”, revela, comentando ainda que esse método não atende a todas as classes.
Bancarização
No Relatório de Economia Bancária (REB) 2023, o Banco Central (BC) revelou que, de 2018 a 2023, mais que dobrou, nos sistemas Financeiro Nacional (SFN) e de Pagamentos Brasileiro (SPB), o número de usuários ativos que realizaram ao menos uma transação de pagamento via Pix ou transferência eletrônica disponível (TED). Durante o período analisado, o número de usuários ativos do SFN/SPB cresceu 103,2%.
Os clientes pessoas físicas passaram de 77,2 milhões para 152 milhões. Já as pessoas jurídicas, que incluem microempreendedores individuais, foi observado o crescimento de 3,4 milhões para 11,6 milhões de clientes. Ou seja, o crescimento de 244,5%.
Queda na circulação
Segundo o Banco Central, após o período da pandemia, nos últimos dois anos, o valor de cédulas e moedas em circulação tem se mantido estável. Apesar do impacto causado nos hábitos da população com o surgimento de novos métodos de pagamento, como o Pix, ainda será necessário um tempo para que a evolução desses efeitos sejam mapeados e calculados. Porém, a instituição reconhece que existem evidências de diminuição do uso do dinheiro após o lançamento do Pix.
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As tapioqueiras Joana D'arc e Alessandra Valéria passaram a aceitar o Pix no comércio há cerca de um ano (Foto: Priscilla Melo/DP Foto) |
Comerciantes aprovam o Pix
As tapioqueiras Joana D’arc, de 48 anos, e Alessandra Valéria, 50, que trabalham na “Tapioca Abençoada” no bairro Santo Antônio, área central do Recife, relatam que com a adoção do método de pagamento há cerca de um ano, o número de clientes aumentou. “Antigamente a gente já estava perdendo cliente por não aceitar o Pix, mas a partir do momento que começou a aceitar, aumentou o movimento e hoje em dia é muito raro a gente pegar dinheiro em espécie, a maioria é Pix ou cartão, principalmente o Pix. O mundo está girando de acordo com o Pix”, relata Joana. Para organizar o fluxo financeiro das vendas, as comerciantes contam que foi necessário abrir uma nova conta em outro banco para que ela fosse exclusiva para o negócio.
Já o vendedor de óculos Marcos Paulo, de 42 anos, que também atua no bairro de Santo Amaro, aderiu ao Pix desde o seu surgimento. “O Pix é bom porque a gente pode receber e também transferir, de forma rápida e online. O cliente está sem o dinheiro, mas tem o Pix.então ele veio só para melhorar “, disse.
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O vendedor de óculos Marcos Paulo, que também atua no bairro de Santo Amaro, aderiu ao Pix desde o seu surgimento (Foto: Priscilla Melo/DP Foto) |
O comerciante lembra apenas de uma situação negativa que passou com o método de pagamento. “Já aconteceu de alguém dizer que fez o Pix, mas eu estava atendendo outros clientes e não conferi. Depois que o cliente já tinha ido embora eu vi que ele não tinha concluído a operação do Pix”, revela. Marcos conta ainda que o Pix também ajuda na hora de passar o troco da compra para os clientes.