Na semana passada, a revista “MIT Technology Review” apresentou um novo serviço, que oferece a imortalidade digital dos entes queridos aos usuários. Por enquanto restrito aos chineses, tem boas chances de alcançar um público bem maior. Para entender do que se trata, Zeyi Yang, autor da reportagem, conta a história de Sun Kai, que, uma vez por semana, faz uma videochamada com sua mãe. Fala do trabalho, das pressões que sofre, e se abre como não acontece nem com a mulher. A mãe tece comentários pontuais, pede que ele que se cuide (afinal, é seu único filho), mas, principalmente, ouve. A questão é que ela morreu há cinco anos.
A interlocutora de Sun não é uma pessoa de verdade, e sim uma réplica de sua mãe, capaz de conduzir conversas simples. Depois que ela faleceu de forma repentina, em 2019, o filho decidiu manter a conexão entre os dois. Cofundador da Silicon Intelligence, empresa de inteligência artificial baseada em Nanjing (Nanquim), reuniu um time para viabilizar o projeto. Providenciou uma foto e trechos de áudios trocados no WeChat, serviço de mensagens instantâneas chinês, e, depois de quatro meses de trabalho, estava criada uma versão digital de sua mãe: um avatar que fica num aplicativo de seu telefone – com quem se comunica regularmente.
Para Sun, o fato de o repertório se resumir a poucas linhas não tem importância. “Ela repetia as mesmas coisas, ouvi-la sempre me emociona”, resumiu para o repórter. Na China, já há meia dúzia de empresas oferecendo serviço semelhante e milhares de pessoas se interessaram. A tecnologia não é perfeita e os avatares ainda se apresentam meio robóticos, mas está amadurecendo. O preço da imortalidade digital vem caindo e se tornando acessível ao grande público. Em 2023, custava entre 2 mil e 3 mil dólares, valor que agora está na casa de algumas centenas.
A ironia é que os avatares dos mortos são, essencialmente, deepfakes: adulterações de vídeos com a utilização da inteligência artificial, como os que vêm sendo usados em golpes e campanhas difamatórias. Quanto mais dados sobre a vida de alguém forem fornecidos, como fotos, áudios, vídeos, mais realista o resultado. Sima Huapeng, outro cofundador e CEO da Silicon Intelligence, afirma que, se 1% dos 1.4 bilhão de chineses se dispuser a pagar, a ideia do sócio se transformará numa mina de ouro.
O mercado da “ressurreição” não acaba aí. Outra companhia chinesa, a Super Brain, também oferece videochamadas com um avatar do defunto, mas quem fala é um ser bem vivo: um empregado da firma ou um terapeuta se fazendo passar pela pessoa morta. Normalmente, o contratante é a família, que tenta proporcionar alguns momentos de alegria a um idoso que não sabe que o parente morreu.