Para o jornal, Dilma e o PT vêm enfrentando uma crise de confiança nos últimos meses, mas a presidente afastada "está prestes a pagar um preço desproporcionalmente alto por delitos administrativos, enquanto muitos de seus mais ardentes detratores são acusados de crimes muito mais graves".
O "New York Times" destaca que o Brasil vive sua maior recessão desde 1930 e afirma que agora "a crise política está minando a fé na saúde de sua jovem democracia".
Já o também americano "Wall Street Journal" afirmou em seu editorial que, ao ser afastada, Dilma se une à lista de "líderes socialistas fracassados" da América Latina. O texto compara o governo do PT com o de países como Venezuela e Bolívia.
"A boa notícia é que o povo latino-americano está ficando esperto para a fraude política do socialismo e do estatismo, e esperemos que isso leve a uma redescoberta de uma tradição melhor na economia do continente, encabeçada por personalidades como Hernando de Soto no Peru e Fernando Henrique Cardoso no Brasil”, afirma.
Citando dados sobre a recessão econômica, taxa de desemprego e inflação no país, o jornal afirma que “não há como negar o perigoso estado do Brasil sob o governo de esquerda” de Dilma, e diz que agora Michel Temer vai “tentar assegurar aos mercados que é mais competente que sua antecessora”.
Para o britânico "The Guardian", o verdadeiro problema é o modelo político brasileiro, classificado pelo jornal como "falido".
O editorial, entitulado "O sistema político deveria ir a julgamento, não apenas uma mulher", defende a necessidade de "fazer mudanças radicais na constituição que que tornem a política mais executável e honesta", mas duvida que Michel Temer leve adiante essa tarefa.
O "Guardian" diz que os erros da presidente contribuíram para sua queda, mas também afirma que o "prejuízo machista contra uma líder mulher" e o "rancor de uma direita que nunca aceitou de fato a ascensão do PT" desempenharam um papel na abertura do processo de impeachment.
O francês "Le Monde" também criticou o sistema político brasileiro. "Com não menos de 30 partidos representados no Congresso - forçando tanto a esquerda quanto a direita a fazer alianças no mínimo vacilantes -, é todo o sistema político brasileiro que parece sem fôlego", afirma o texto.
Para o jornal, Dilma "teve seu mandato brutalmente interrompido" depois de "manobras que não honram o conjunto de uma classe política brasileira amplamente desacreditada". Segundo o jornal, a tarefa de Michel Temer é "pesada". "Resta ver se ele vai ter o talento para recriar o que o Brasil mais precisa: a confiança em seus líderes", finaliza o texto.
O espanhol "El País" criticou o afastamento do presidente e usou o título "Um Brasil a temer". Para o jornal, a medida, "longe de resolver a crise institucional que o Brasil vive, a aprofunda".
Ao explorar os motivos alegados para afastar Dilma, o "El País" classifica as pedaladas fiscais de "má prática", mas destaca que ela foi usada pelos antecessores de Dilma no cargo e por governos democráticos de outros países. Diz também que o judiciário não encontrou provas que vinculem Dilma aos casos de corrupção política e empresarial que "destruíram a reputação do país entre seus próprios cidadãos e ante a opinião pública internacional".
O jornal espanhol informa que Temer pertence ao mesmo partido do "verdadeiro motor da destituição de Rousseff, Eduardo Cunha", e diz que ele enfrenta uma "tarefa titânica" que inclui acabar com a recessão econômica, a crise de credibilidade da classe política e a fragmentação parlamentar que torna o país ingovernável. "Apesar de seu arranque ter sido questionável, Temer é obrigado a abordar com seriedade esses desafios", conclui.
Fonte: G1.