Vaticano concede grau de venerável a Frei Damião
A Arquidiocese de Olinda e Recife e a Província Nossa Senhora da Penha do Nordeste do Brasil, da Congregação dos Capuchinhos, começaram a semana com a graça de uma notícia importante: o papa Francisco autorizou promulgar, nesta segunda-feira (8), o decreto pelo qual reconhece as virtudes heroicas do Frei Damião de Bozzano e de outros servos de Deus.
A decisão ocorreu em audiência com o Reverendíssimo Cardeal Angelo Becciu, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, no último dia 6 de abril de 2019, no Vaticano. A partir de agora, Frei Damião ganha o título de Venerável, com o povo de Deus aguardando o dia em que seja declarado beato e, depois, santo.
O processo de canonização, no entanto, é demorado e inclui cuidadosa documentação. No Recife, o capuchinho frei Jociel Gomes é o responsável pelo encaminhamento dos documentos e relatórios referente à causa junto ao Vaticano. Após nove anos de trabalho reunindo e organizando dados, testemunhos e documentos, frei Jociel Gomes da Silva enviou a documentação do processo para o Vaticano em 28 de junho de 2012 com a autorização e as bênçãos do arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. Somente agora, quase sete anos depois, chegam as boas novas sobre o Venerável Frei Damião de Bozzano.
"O povo já proclama Frei Damião santo por tudo que ele viveu nas missões e no dia a dia da população pobre do Nordeste, mas a Igreja mantém a salutar cautela dos estudos da vida e das obras, antes e depois de sua morte, para declará-lo santo", explicou dom Fernando. "Continuemos rogando a Deus para que nos dê a graça de alcançar a canonização de Frei Damião", comentou.
A notícia do decreto alegrou o clero e os fiéis do Nordeste. Em mensagem enviada a dom Fernando Saburido, o bispo de Nazaré da Mata, dom Francisco Lucena, expressou seu contentamento com o andamento do processo de beatificação e canonização de Frei Damião. "Viva o nosso Apóstolo Missionário do Nordeste. Viva o nosso Regional NE2. Viva a Província N. Sra. da Penha do Nordeste do Brasil. Frei Damião praticou as virtudes heroicas e viveu com fidelidade na graça de Deus. É o nosso Venerável Frei Damião. Dia de muita alegria!", escreveu.
Caminho
Para declarar uma pessoa santa, deve-se percorrer um caminho cuidadoso e, por vezes, demorado. O bispo local inicia a causa com a Congregação do Vaticano para as Causas dos Santos, com um postulador pesquisando e estudando detalhes da vida e das obras da pessoa a ser declarada santa. Material reunido, encaminha-se para o Vaticano que, ao analisar o compêndio, vai reconhecer suas virtudes heroicas (declarando-o venerável). Até aí, é apenas o reconhecimento da Igreja de que a pessoa teve uma vida especialmente sagrada ou foi martirizada por sua fé. Adiante, tendo o primeiro milagre comprovado, a pessoa é beatificada.
Se o Vaticano reconhecer um segundo milagre, o Papa nomeia-o santo. É a canonização, que atribui ao novo santo um dia de festa (normalmente na data de sua morte, que é quando nasce para a vida no céu), permitindo que igrejas sejam nomeadas em sua honra.
Missão
Frei Damião nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de novembro de 1898, tendo recebido o nome de Pio Gianotti. Era o segundo dos cinco filhos do casal de camponeses Felice e Maria Giannotti, de sólida formação católica.
Ainda aos 10 anos, após ser crismado, começou a expressar os primeiros sinais de vocação e, aos 13 anos, ingressou no Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 17 de março de 1911.
Aos 17 anos, em julho de 1915, emitiu os primeiros votos e recebeu o nome de Frei Damião de Bozzano. Entretanto, precisou interromper os seus estudos de Filosofia após ser convocado, em setembro de 1918, para o serviço militar na Primeira Guerra Mundial.
Retornou ao Convento ao fim da Guerra e emitiu sua profissão perpétua. Em 1920, foi estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
Frei Damião foi ordenado sacerdote em 25 de agosto de 1923, na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Bríndisi, em Roma. E, em 1931, foi enviado ao Brasil, onde chegou em 17 de junho, tendo se estabelecido no Convento Nossa Senhora da Penha, em Recife (PE). Após esta chegada, foram 66 anos dedicados às Santas Missões.
As Santas Missões eram vistas como "tempo forte de graça e conversão", que costumavam durar de segunda-feira a domingo. Durante esta semana missionária, o frade proclamava a Palavra de Deus em uma cidade, por isso, afirmava ser apenas um mensageiro de Deus.
As Santas Missões contavam com sermões, catequeses, encontros específicos com homens, mulheres, jovens, crianças, visitava os doentes, os presos. Além disso, dedicava-se ao sacramento da Reconciliação, atendendo confissões por mais de 12 horas por dia, orientando os corações para Cristo.
Com os anos, adquiriu uma deformação na coluna que o deixou encurvado, provocando dificuldades na fala e na respiração. Além disso, durante muito tempo, sofre de erisipela, devido à má circulação sanguínea.
Em 1990, sofreu uma embolia pulmonar, por isso, a partir de então, diminuiu o ritmo das Santas Missões, passando apenas para os finais de semana. Mas, sua saúde se agravou em 1997, ano em que realizou sua última Santa Missão na cidade de Capoeiras (PE), no mês de fevereiro.
Em 12 de maio de 1997, foi internado no Real Hospital Português, na capital pernambucana, onde foi visto realizando aquele que foi chamada "sua última missão", rezou o terço com o povo em uma das salas do hospital.
No dia seguinte, 13 de maio, sofreu um derrame cerebral e foi levado para a UTI, vindo a falecer em 31 de maio de 1997, aos 98 anos. Seu corpo foi enterrado na capela de Nossa Senhora das Graças, de quem era devoto, no Convento São Félix, em Recife.