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Eleições 2024: Nunes e Boulos vão disputar 2º turno em São Paulo

Apuração das urnas neste domingo confirma 2º turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSol)

 Eleições 2024: Nunes e Boulos vão disputar 2º turno em São Paulo
Eleições 2024: Nunes e Boulos vão disputar 2º turno em São Paulo. Foto: Montagem/Metrópoles

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) vão disputar o segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo, que ocorre no dia 27 de outubro. Os resultados foram divulgados na noite deste domingo (6/10) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Com 99% das urnas apuradas, Nunes tinha 29,49% dos votos, enquanto Boulos somava 29,04%. Os dois desbancaram o influenciador Pablo Marçal (PRTB), que marcava 28,14%, em terceiro lugar, na disputa para prefeito da capital paulista mais acirrada desde 1985, ano da primeira eleição direta pós ditadura militar.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) ficou em quarto, com 9,93%, enquanto que o apresentador José Luiz Datena (PSDB) não conseguiu ultrapassar a marca dos 2% — tinha 1,84% —, no pior desempenho de um tucano na história das eleições paulistanas. Atrás dele, Marina Helena (Novo) somava 1,38%.

Nunes se manteve na frente durante toda a apuração. Boulos largou em terceiro lugar e ultrapassou Marçal quando havia 30,69% das urnas apuradas. A disputa pela liderança chegou a ficar bem apertada e, com 47,7% de apuração, a diferença entre o atual prefeito e o candidato do PSol era de apenas 1.716 votos.

No final, cada um dos três candidatos teve mais de 1,7 milhão de votos.

Campanha agressiva

A campanha foi a mais bélica da história recente da política paulistana. Marcada por ofensas pessoais em série, agressões físicas em debates e acusações de corrupção, ligação com o tráfico e até de uso de drogas, a disputa contou com o uso sistemático das redes sociais, reverberou em batalhas jurídicas e colocou à prova a influência de padrinhos políticos e de grandes alianças partidárias.

A corrida eleitoral começou com os nomes apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à frente nas pesquisas eleitorais. O deputado federal Guilherme Boulos (PSol), aliado do petista, e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que atraiu o clã bolsonarista, lideravam os levantamentos e apostavam na polarização esquerda versus direita para chegar ao segundo turno, em uma espécie de recall das eleições de 2022.

Durante meses, o atual prefeito e candidato à reeleição costurou uma extensa coligação partidária com o objetivo de impedir uma candidatura genuinamente bolsonarista e embarcar na eleição como o nome “consensual” da direita para derrotar Boulos, em uma espécie de “frente ampla” contra o que ele chama de “extrema esquerda”.

A articulação rendeu frutos: o emedebista conseguiu evitar as candidaturas de Ricardo Salles (então no PL) e Kim Kataguiri (União Brasil), e garantiu uma aliança com 12 partidos, o que lhe rendeu mais de 60% do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV. O prefeito também recebeu o apoio oficial de Bolsonaro, que indicou seu vice de chapa, o Coronel Mello Araújo (PL).

O plano de chegar na campanha como o único representante da direita, no entanto, acabou frustrado aos 45 minutos do segundo tempo, quando o influencer Pablo Marçal (PRTB) entrou em campo. Famoso na internet por sua atuação como coach, Marçal se apresentou como o candidato “antissistema” da vez e passou a competir com o prefeito pelos votos do eleitorado bolsonarista.

Com discurso típico da extrema direita, como a existência de um “consórcio comunista” de seus adversários, e disseminação de fake news, como a acusação de que Boulos consome cocaína, o influencer rachou a direita, atraiu uma leva de bolsonaristas, e passou a crescer nas pesquisas de intenção de voto, até empatar numericamente com Nunes, ameaçando o projeto de reeleição do emedebista.

Marçal também despertou interesse no clã Bolsonaro, de quem chegou a ganhar elogios no início da campanha, e ajudou a escancarar o desconforto da família com o apoio ao prefeito paulistano. A relação com o ex-presidente e seus filhos, no entanto, seria marcada por um intenso “morde e assopra” durante a campanha, com direito a Marçal chamando Carlos Bolsonaro de “retardado” e ao ex-presidente dizendo que “falta caráter” ao influencer.

Além de Marçal, outra novidade na corrida eleitoral também movimentaria a disputa em São Paulo, por motivos diferentes. Depois de desistir quatro vezes de se candidatar em outras eleições, o apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) confirmou que tentaria a Prefeitura de São Paulo em 2024, abandonando a então aliada Tabata Amaral (PSB), com quem vinha discutindo compor uma chapa como seu vice.

Com desempenho ruim nos primeiros debates e uma postura de anticandidato nas ruas — sem pedir votos e mostrando desconhecer até mesmo o número do próprio partido —, Datena saiu de uma posição de destaque nas pesquisas até derreter à quinta posição nos levantamentos mais recentes, ficando atrás de Tabata, inclusive.

Mesmo assim, foi protagonista de um dos momentos mais tensos da eleição: a cadeirada em Marçal, no debate da TV Cultura, em setembro. O episódio aconteceu em meio a uma escalada de agressividade na campanha, que começou hostil já no primeiro debate, em agosto.

Os debates seguintes também acabaram marcados por atos violentos. Marçal insinuou que Boulos era usuário de cocaína. As provas da acusação nunca apareceram. Ao invés disso, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou que a equipe de Marçal se utilizava de um processo envolvendo um homônimo de Boulos para atacar o deputado.

Marçal nunca voltou atrás na fala e o episódio foi levado por ele até os últimos dias antes do primeiro turno, gerando condenações na Justiça Eleitoral que obrigaram o influencer a publicar uma série de direitos de resposta de Boulos em suas redes sociais. No debate da TV Globo, na última quinta-feira (3/10), o candidato do PSol exibiu um exame toxicológico para provar que não usa drogas e desafiou o rival do PRTB a fazer o mesmo.

A postura agressiva de Marçal se estendeu também a outros adversários, que ganharam apelidos jocosos, como “bananinha”, no caso de Nunes, e “para-choque de comunista”, no caso de Tabata, e foram alvo de provocações e mentiras. Depois do segundo debate, quando o influencer usou uma carteira de trabalho pagar fingir “exorcizar” Boulos, que reagiu dando um tapa no documento, as campanhas passaram a exigir regras mais duras das organizações dos eventos televisivos.

Outro episódio de violência envolveu um produtor da campanha de Marçal, que deu um soco no marqueteiro de Nunes, Duda Lima. O caso aconteceu nos bastidores, logo após Marçal ser expulso do debate do Flow por desrespeitar as regras da organização e fazer ofensas pessoais a Nunes durante suas considerações finais.

Frustrada com a sequência de baixarias e a não discussão de propostas, Tabata Amaral (PSB) viralizou nas redes ao comentar o episódio. “Sabe qual é a merda maior? Eu estava lá que nem uma filha da puta falando sobre as minhas propostas, fazendo um debate sério, e eu tenho certeza que amanhã só vão falar do soco. Não vão comparar as propostas. Eu tenho uma teoria, quase uma teoria da conspiração, de que colocaram o Pablo Marçal para que a gente não visse as merdas que estão acontecendo em São Paulo”, disse Tabata.

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